
ESPÍRITO JOVEM
por Cláudio El-Jabel
Sabe quando erámos jovens,
Não tinha medo de falar,
Não tinha medo de olhar,
Parece que tudo que podemos descrever é negar,
Sim a juventude assim nos forma,
Somos os donos das verdades,
Nem que sejam as que pensamos,
Somos donos de nossos narizes,
Mesmo quando alguns não sabem onde os enfiam,
Somos donos dos nossos bairros,
Tudo que há neles é de nosso controle,
Conhecemos e somos amigos do seu Nasife, das esfihas,
Também do seu Manuel, do botequim,
Do seu Silva, lá, do açougue,
Do veterano Raymundo, do Trailer Via Onze,
Da Cláudia e seus papos de Ufologia,
Da Beth e sua fama,
Do Mestre Savitre, descrevendo Dalai Lama,
Das Matas que antes invadiam nossas trilhas,
De tantos outros amigos das pescarias,
Daquele aperto no peito de quem deixamos pra trás,
De tudo aquilo que sabemos, não voltaram jamais,
Cada respirar e espirar que trás como efeito a memória,
Daquelas noites, ditas perdidas,
Mas em verdade eram cheias de histórias,
Dessa nossa vida medíocre que sabemos ser,
Nascemos com tanta vida e inspiração,
E o caminhar já não é com tanta determinação,
Ao olhar para esse céu imenso de estrelas,
E perceber que nada mudou durante nossa passagem,
Tão curta,
Tão rica,
Que tempo é esse meu Deus,
Que não caminha na mesma idade,
Minha mente ainda é criança,
Meu corpo já mais de metade,
Tentei de todas as formas esperar,
Mas a bendita célula não me escutou,
Minha mente ainda anda tão cheia,
E meu corpo já esvaindo-se da tenacidade,
“Mens sana in corpore fessi robore”
E nem sei de minha hereditariedade,
Vejo em meus filhos outros seres,
Vejo muita coisa minha neles sim,
Mas não faço milagres,
Cada qual tem lá sua verdade,
Chamam-na de personalidade,
É legal ver essa diversidade,
E ao mesmo tempo, tenho medo,
Estou em uma fase confusa,
Quero brigar com o tempo,
Não por me sentir sem ele,
E sim por tê-lo sempre ao lado,
Cada respiro ele respira comigo,
Assim somos Duo,
Somos dupla,
Mas eu sou uma tríade,
E Tempo o que é afinal?
Se fosse alma estaria em envólucro,
Se espírito for,
Flutuaria,
Para onde voltaria?
De onde parte?
Por quem é enviado?
Sua função sempre me deixou embaralhado,
Devo deixar que se siga então,
Deixar-me fluir nesse mar de ondas,
Onde o ondular nos faz por vezes subir,
E ao quebrar nos enche de sombras.

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